quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Clichês



Não pense, não controle, faça. Essas eram as palavras que Luíza repetia todos os dias em frente ao espelho, mas também eram as únicas que fugiam à sua memória quando ela avistava Fred. Aqueles ofuscantes olhos azuis, o corpo minuciosamente esculpido, os braços fortes e a barba por fazer. Sim, aquele era o Fred, o culpado por seus devaneios e noites insones. Se Luíza conseguisse ao menos lhe encarar, se pudesse esquecer seus medos, se contasse a Fred o que dizia à sua imagem refletida talvez ele finalmente fosse seu por completo. Mas Fred não a conhecia, nem sequer sabia seu nome. Luíza era linda, tinha um sorriso encantador, os olhos cor de mel eram doces e castos, e ainda assim nada lhe dava a segurança de que era boa a bastante. Um dia, soube da mudança de Fred e teve a certeza de que não haveriam mais chances. Foi até a estação na esperança de vê-lo pela última vez. O encontrou. Estava sentado ao lado da janela do terceiro vagão. As mãos de Luíza começaram a suar, ficaram geladas. Ela sabia o que tinha que fazer. Era a sua última chance. Luíza entrou desesperada no trem, mas para o descompasso do seu inválido coração, uma loira voluptuosa passeava a mão sobre as coxas do rapaz, que olhava enternecido nos olhos da sua acompanhante. Luíza - um peito que afava, um coração fragmentado – exorcizou-se do amor... Sobem os créditos, acaba o filme. O cinema é esvaziado, mas na primeira fila, oculta entre as sombras chora silenciosamente uma Luíza desesperançosa, lagrimas de mais uma menina tímida dos olhos cor de mel.

4 comentários:

  1. A cada texto que escreve, mais se especializa na capacidade impiedosa de tornar os detalhes, uma verdadeira obra de arte. Um conto surpreendente com um desfecho fantástico. A literatura é um arte e atrai, atrai muito.
    Meus sinceros parabéns!

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  2. Nossa, surpreendente...
    é só isso que consigo dizer =]

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  3. Parabéns Laís, a forma como escreve é muito singular,além diso é ma garota incrível em tudo o que faz, saudades de tc contigo.

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  4. Obrigada a todos, mérito meu e do Thiago Siqueira que teve uma participação nesse conto..Enfim, "barboseiras"

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Lacre o envelope, Cole o selo!