quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Das Minhas Saudades

Volta aqui, menina. Explica como a gente se perdeu ou o que o vento fez com as nossas pegadas. Fica... E diz o por quê dessa melancolia tímida, dessa tristeza vã, dessa certeza vaga. O tempo passou, eu sei. Ele nos fez mais calmas. Mas o pior é ver que nesse presente futuro não somos mais que lembranças passadas. A verdade é que tenho medo, menina. Medo de sufocar, de me perder, de te encontrar, de nunca mais me encantar. E nessa vida urbana demais, polida demais; é um tanto triste ver a gente perdendo a essência das flores entre o concreto e o asfalto.

Perdoe minha culpa, menina. Olha como ela beira a estupidez: Admitindo a ausência, adotando o silêncio, permitindo que nossas memórias se percam, virem migalhas. Vê? Essa é a parte constrangedora de nosso futuro desalinhado. Uma parte distorcida de um passado inviolável. Sei o quanto ferem essas palavras e não me orgulho delas. Então me desafiei a fazer algo por isso. Você me conhece, sentir nunca foi meu verbo auxiliar. Mas ultimamente é o único que me amedronta. Não de uma maneira qualquer. O sentir só funciona quando acompanhado da doce e melancólica falta. E eu sinto, menina.

Sinto falta do seu sorriso simples, das conclusões óbvias, da caligrafia de menino. De repente senti tanta falta do seu abraço quente, das suas palavras certas. E por mais que esses tempos não pareçam vindouros eu não sinto apenas falta, sinto a sua falta. E dói. ‘Não mais como metáfora, mas fisicamente’.

Talvez essa overdose de nostalgia sirva só pra ter certeza que há pessoas que não se apagam, que ficam presentes apesar da ausência. E por mais que eu tenha essa compulsão de destruir as árvores antes que comecem a dar frutos, no final a safra nunca é infrutífera.

O que precisa ser entendido - independentemente de paradoxo - é que eu não te esqueci, menina. As minhas palavras bonitas dizem apenas que não viramos lembranças. Eu sinto você. Um sentir conjugado no presente, mas com doses esparsas de passado e futuro. 

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Lágrimas


Elas chegam lentas, inofensivas.
Forçando córneas, dilatando pupilas.
Querendo provar a maciez do rosto.
Querendo forjar o amargo do gosto.
Rolando em silêncio.
Inundando sem disfarçar.
Corroendo sentimentos.
Lavando sem nunca extirpar.
Mas, de repente, elas se negam.
Não caem.
Não limpam.
Não libertam.
E tudo o que as mantinham vivas desaparece:
A trilha do olhos aos lábios.
O líquido que faz jorrar.
E as memórias falhas que se esquecem.
Elas se foram.
Não voltam mais.
Elas secaram.
Não voltam atrás.
Mas, de repente, uma delas surgiu.
Escorreu devagar.
Não sangrou.
Não curou.
Não durou.
Era apenas água.
Era apenas mágoa.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

O sabor agridoce da nostalgia

Começa com carícias brandas e de leve seus dedos já estão contornando meus lábios. Como se os estivessem preparado para o beijo prometido. Sinto a respiração descompassada. O toque exigente. E depois de alguns suspiros arrancados abro os olhos e me perco em poucas letras, fórmulas e equações.
Sonhei com você novamente. Dessa vez, sobre um livro qualquer. Não posso negar, sinto sua falta. Uma falta diferente. Não dói. Não machuca. Mas falta.
Sinto o vento frio tocar minha pele e me imagino em seus braços, completamente aquecida. Invento lembranças. Reconstruo o real. Finjo que não fantasio. E fantasio. Secamente, engulo doces mentiras para suavizar o gosto amargo da saudade e do silêncio. Isso é autosabotagem, eu sei. Mas já não me assusta. Há mágoa demais para seguir em frente.
Ando calada. Perdida. Insone. Tenho sonhos negros. Alucinações desmedidas durante a noite. Um coquetel de prazer e sofrimento. Mas não se preocupe comigo. Ouvi dizer que a dor nos faz puros. Então não precisarei mentir quando sonhar com você outra vez: Sinto sua falta. Nada mudou. Ainda dói. Ainda machuca. E falta. Simplesmente falta.

sábado, 4 de junho de 2011

Buarqueanas


Elena bateu a porta com força. Daquela vez, ele sabia, era pra não mais voltar.
Juras em vão, flores no chão e declarações vazias. Elena não dançava no mesmo ritmo dele. Nunca dançou. Aquele seu jazz era demais pra um homem que só ouvia valsinhas e escrevia palavras doentes e poemas mortos.

O apartamento era sufocante, nas ruas as flores murchavam nos seus jardins de plástico. A tarde rodopiava os ponteiros do relógio. O céu vestia seu terno cinza e caía sobre os ombros do homem na sacada. E mesmo assim, ele pegou suas chaves e foi à praia. Rezava para que a brisa que lhe convidava ao delírio levasse toda sua alma embora e, junto com ela, roubasse os fragmentos pulsantes de Elena. Queria exorcizar-se.

Sentou-se em frente ao mar e de repente, aquela profusão de águas lhe respondeu. Uma onda estourou nos recifes e trouxe com ela um papel manchado e velho, pra ele, uma distração recente e límpida.  Um retrato em branco e preto, onde duas figuras indistinguíveis formavam um casal. A qualidade era péssima, o estado decrépito, os anos eram muitos, mas eram semblantes felizes.

E como se a realidade cuspisse na sua cara, aquele escritor de meias palavras, retornou a uma órbita chamada Elena. E dividia-se entre a fantasia da fotografia que emoldurava uma era feliz e a tristeza escandalizada que lhe arreganhava os dentes e ria com desprezo na sua cara. Elena gritava o seu nome presa dentro daquele retrato. Não um grito de desespero, mas de rancor. Vestígios de uma vida arruinada pela falta de paixão.

O eco daquelas palavras antigas gritava aos seus ouvidos, e como se conseguisse se enxergar naquele pedaço de papel, ele reconhecia sua própria imagem e ali, a mulher de rosto manchado era realmente a sua Elena. Nesse universo indigesto, frias e anônimas memórias lhe recobravam a lucidez dos dias que ele não viveu.

Aquele homem que era e não era ele, parecia estampar um sorriso estático e insuspeito, comum aos que acreditavam no amor, mas pressentiam dias revoltos no futuro. E o longo paletó de outrora envolvia o vestido de uma Elena serena, um vulcão que não se sabe quando, não se sabe onde, entraria em erupção.
E tal qual pílulas de amargura, as juras falsas de um amor inexistente arranhavam o seu peito. Dizem que o amor é cego, mas o pior é aquele que não se pode ver.

Olhou novamente o retrato agora com outros olhos, havia asco escorrendo dos seus olhos. “Por que a sua Elena não era como a da fotografia?”, ele se perguntava. A essa altura já se questionava se ela era mesmo sua, se o esboço borrado não tinha qualquer sinal vital da autêntica Elena.
Então ele percebeu que atrás daquele papel amassado e sujo, havia algumas linhas rabiscadas. Na sua ânsia por respostas da real Elena, da renovação daquele sentimento, do por quê da sua dor, ele se deparou com parcas palavras que um dia se perderam em um coração:

 “O amor não tem pressa, ele pode esperar em silêncio. Amores serão sempre amáveis. 22/09/1956”

Nas linhas da velha poesia que se renova, o vento que lhe presenteou aquela história soprou-a de volta ao lugar de onde veio, e os dedos cientes do destino que pedia para se completar, folgaram-se. Enquanto o mar mastigava novamente a fotografia, o homem sentia parte da sua história fluindo junto àquele retrato, e resignado, ele tinha a certeza de que em um futuro longínquo, as metades de sua vida teriam um reencontro.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Clausura Alternativa

Entre devagar e não faça barulho. Já é outono e elas ainda dormem, estão nessa sátira onírica há algum tempo.  Mas não estão mortas, só esperam a calmaria nesses tempos de cólera.


Então vamos resgatá-las, o silêncio as roubou de mim. Aconteceu de repente e tudo perdeu o controle. Eu vi o céu em tons de cinza se desfazer sobre meus ombros, vi as flores murcharem nos meus campos de papel e consequentemente me perdi no caminho que me levava à elas, às minhas palavras.

Eu que sempre rabisquei a alma com os dedos era devorada, agora, pela semântica. Havia certa fraqueza na voz, a inspiração sucumbia num abismo cada vez mais profundo, abandonada ao seu próprio desalento. E enquanto o silêncio usava minhas próprias palavras para dissolver a vã esperança de tê-las de volta, a eloquência escorria da minha veia poética, sem coágulos ou cicatrizes.

Agora o desespero bate à porta, e é preciso reconstruir a dialética, dar um fim a esse tartamudear. Então feche a porta lentamente e não ascenda as luzes. Elas devem permanecer delirando no escuro. Essa é mais uma fase de amadurecimento. Afinal, não há nascer do sol à noite, lembra? Não se preocupe, eu vou te guiar. Sendo assim, esqueça as perguntas e foque apenas no timbre da minha voz. Siga essa frequência sonora e espere instruções. A acústica é boa. Você vai me ouvir. E não ouse vibrar essas cordas velhas e gastas. Nem os sussurros são seguros aqui.

À oeste, meu rapaz! Para longe dessa trilha de letras mutiladas e frases inconclusas. Muito além desses silentes fonemas. Onde a retórica banha a baía de vocábulos e expressões, onde a dicção não se limita à maneira de dizer, onde metáforas sejam metonímias e principalmente onde se possa ver o delírio do verbo.

E ao contornar toda a prosa, quando restar apenas poesia, quero que acorde meus versos com sua voz vociferante. Extraia toda letargia que ainda resta nas minhas palavras. E nunca mais as deixe em sigilo porque a cólera ofusca o julgamento, cega a razão. E as folhas não cairão nesse outono, querido. Nunca mais.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Como princípio, o fim


É com [sobriedade] só ebriedade que preencho algumas linhas horizontais sobre minha negligência, sobre o extravio das minhas Cartas Mortas, e principalmente sobre como a inspiração foi se esvaindo até extinguir-se por completo. Nesse novo universo  a tristeza trazia rascunhos admiráveis, mas ao mesmo tempo prendia meus pés e vendava meus olhos.
 Não havia uma justa medida!
Então, este é o princípio: Algo que não servirá, que não purificará, que não...
Vê beleza nisso? Eu não.
É o princípio do fim de algo que talvez nem seja importante. São pensamentos [des]ordenados tentando encontrar a coerência.
Pura prolixidade!
Sorria! Agora estamos trinta segundos acima do plano inclinado da história, agora incluímos ressonância às palavras e mais ainda só agora podemos exumar as desculpas e dar um novo sentido ao que chamam de desfecho.
Então, este é o fim: Um redemoinho com todo o nada contido.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Sussurro


Todos os dias antes de dormir eu ouço fantasmas gritarem meu nome. Um monte deles, brigando pela minha atenção. E acho que, hoje, o seu foi o vencedor. Não tenho certeza, o breu do meu quarto escuro dificultava o entendimento e a distinção. O silêncio era total, mas eu podia jurar que ouvi um sussurro. É, uma voz rouca sussurrou ao meu ouvido. Um timbre incomum: doce e firme, sério e suave, amargurado por perguntas, ensanguentado de verdade.

Talvez não tenha sido nada, talvez nem tenha sido você.
Foram apenas sussurros, e sussurros são sempre iguais.

Foi aí então que senti aquele vapor quente ao ponto de estremecer, de arrepiar todos os pelos do corpo, de fazer respirar fundo, bem fundo. E só uma pessoa no mundo é capaz de provocar tudo isso com sussurros apenas. A mesma pessoa que me escrevia cartas, que me roubava beijos e que podia olhar nos meus olhos e enxergar minha alma. É, talvez eu não seja tão insensível como dizem.

As lágrimas vieram aos olhos e quando pisquei por um momento todas as imagens sumiram.

Mas lembrei de como os beijos, as cartas e os sussurros vibravam e ecoavam na quietude das minhas memórias e me perguntei se reverberações e ecos como aqueles chegam a morrer totalmente, se algum dia você verá o anel com suas iniciais gravadas ou se nossos beijos ainda possuem o encaixe perfeito dos lábios.

Eu sei, sou uma estúpida. Mas fazer o quê?

Lembranças machucam. As boas ainda mais.

Mais Selos

Primeiramente quero agradecer à Bia Ferreira pelo selo e devo confessar que não foi nada fácil conseguir postá-lo ( a página dava erro dizendo que eu não era autorizada, mas enfim .. Aqui ele está!)

Desculpem-me a ausência durante essas 2 semanas que se passaram. Estou aproveitando as últimas gotas de férias no Rio de Janeiro e desde então não tenho tido muito tempo para ler meus blogs favoritos e até mesmo postar alguns textos, mas devo dizer que estou num processo criativo impressionante, sinto a inspiração à flor da pele, várias ideias e muita disposição pra escrever. Agora é só unir tudo isso e converter em palavras, ou melhor em Cartas Mortas.
 Espero que gostem!

Ah, quase esquecendo de indicar o selo:

Aquilo que vem do escuro ( da minha tutora Pâm G.)

Bleeding Love; Sons do luaR; Busílis

O N Z E P A L A V R A S

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Metade Única

Éramos um só. E apenas isso bastava.

Não falávamos a mesma língua. Não conhecíamos um ao outro. Não éramos sequer parecidos. Mas continuávamos sendo um apenas.

Tínhamos os mesmos sonhos, os mesmos medos. Quando você sangrava, eu sangrava também. Quando o veneno escorria lento em suas veias, eu agonizava de dor. E enquanto as lágrimas secavam no deserto dos seus olhos, a areia cantava palavras imorais para mim.
Mas não há Oasis aqui.

Apagaram as luzes quando saíram e nos obrigaram a puxar o gatilho. Queimaram as páginas do nosso livro. Arrancaram nossos corações bem em frente aos nossos olhos. Os olhos enganam fácil, eles disseram.

Os flagelos foram os mesmos. As feridas sangraram da mesma forma. Os cortes ainda não cicatrizaram. Mas sobrevivemos assim por muito tempo.

Até que a cor de nossas peles se tornou um problema.

Selo

Bom, recebi um selo da minha querida Pâm, a primeira pessoa que deu um voto de confiança ao Cartas Mortas, e tenho a obrigação de reconhecer isso. Obrigada Pâm por tudo!
Então vamos ao selo. Como nunca cumpro essas regrinhas nem vou fazer questão de citá-las. O que me basta diz respeito ao porque desse blog.
Acho que nunca deixei isso muito claro, mas se deixei faço questão de certificar.
Ele foi criado como uma válvula de escape: São as sobras das cartas que escrevi, mas nunca mandei e os reflexos de noites insones. Foi criado para amenizar a dor que existia por conta das promessas não cumpridas.
 And who is gonna save you when I’m gone?
Acho que agora não importa mais, não faz diferença... 
Eu me salvei sozinha.

Ah, tem outra coisa também...
Eu deveria indicar uma quantidade muito grande de blogs, uns 15 no mínimo. 
Mas só vou mandar pra aqueles que mais frequento ou os que realmente merecem.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Amor,

Eu quero teu beijo sabor amora,
Quero o cheiro de açaí da tua pele macia,
 E aquele sorrisinho alvo feito sob medida.
 Eu quero o encaixe dos teus braços,
Dos seus dedos entrelaçados, da sua respiração arfante.
Quero ver você rindo da minha câimbra nas pernas,
E tentando me convencer que seus erros gramaticais são, na verdade, axiomas.
Quero desbravar o mar de flores que existe no fundo dos seus olhos.
Nos campos de rosas, trevos e girassóis.
E antes que se possa esquecer, quero as estrelas que você me prometeu.
E em troca ofereço a lua em todas as suas fases.
Ofereço palavras, vozes, sons, frases sussurradas ao pé do ouvido.
Todos os meus dias de chuva com a neve caindo na janela serão seus.
E os segundos serão horas,
Os minutos, anos.
Até os anjos chorarão quando nossas estrelas colidirem.
Mas e se forem promessas inexatas?
Até quando vão durar?
Não importa, eu sei e sinto,
Independente do quanto ou quando,
Sem data de fabricação ou prazo de validade.