terça-feira, 27 de julho de 2010

Asas abertas da escuridão


No silêncio ferido por comportamentos falhos,
Seus gritos diluídos na doce e frequente chuva branda
Obrigam meus preceitos a trilhar rumos inconstantes.

Nesse ardor funcionando como defesa e ataque
Meu perfil, vago como um fio de linha desenrolado no ar, não condiz com minha existência.
E mesmo assim os pequenos ruídos comovem minhas mãos nitidamente compungidas.

Roubar os movimentos de quem busca avanço
É apagar sua própria realidade
E torturar com um olhar apenas.
Embora no fundo não haja mérito algum em erguer sonhos
Com essas mãos que não me pertencem.

Tinha a falsa lucidez dos loucos, mas não chegaria a enlouquecer.
Falava em suicídio, mas não chegaria a se matar.
Sabia que estava errando, mas o orgulho não me deixava admitir.
E ainda espero a salvação antes mesmo de encontrar-me na moldura de um espelho quebrado.

Não precisa de mais nada para lembrar seus rendimentos próprios
É só aceitar que não pode concluir as últimas folhas em branco.
Simplesmente condenar o futuro às cinzas
E usar seus pobres recursos de uma forma sugestiva.

De certo modo nada muda porque a essência é a mesma,
Mas assim que o casulo se romper
A luta para equilibrar minhas asas terá seu início
Afinal, sempre herdamos vícios.

Não adianta derramar sangue pelo que se acredita,
Fazer de si próprio um projeto infundado,
Guardar rancor por certas imperfeições
Ou lutar por razões inacessíveis.

Basta apenas fingir com as mesmas frases, os mesmos gestos
Suportar essa crônica apatia e não demonstrar cansaço
Seguir viva, evitando tomar o tão esperado cálice da abstinência
E depois, enfim, beber para morrer.

Flores de Papel


Eu não posso continuar fingindo
Esperar que os dias passem e levem consigo nossos momentos,
Lembranças que não consigo apagar
Você se foi, mas seu fantasma ainda me atormenta
Apago a mágoa, aumento a dor, mutilo a minha alma
E nada disso me faz aprender
Nada ameniza meu sofrimento.
É como se lentamente você morresse dentro de mim,
Como se nada fosse real
E talvez nunca tenha sido.
Você me prendeu antes que eu me libertasse
Fez de mim um jogo de experimentar
A sua redenção, o melhor dos sacrifícios
E mesmo se livrando da culpa, deve ser cansativo ganhar seu próprio jogo.
Sigo na escuridão
E acordo entre as cinzas
Mas não sou mais um reflexo da minha dor
Nem das conversas ensaiadas no espelho
Ou das mentiras e lágrimas derramadas
Apenas não te sinto mais em mim
E eu não te amo mais.
Essas lembranças são, agora, memórias mortas no meu coração
Suas escolhas são a minha justificativa
Eu sei, tudo que eu amei foi o ódio.
Se nada foi real... Porque disse que me salvaria quando fosse embora?
Você ainda pode me livrar do perigo,
Mas dessa vez eu me salvo sozinha.

Auto Retrato

Reflexo arruinado por uma vontade insana
Perdido em memórias escondidas
Sofrendo em silêncio
Fugindo das suas próprias vontades
Figura sólida, rompendo sua existência
Ícone indulgente e repleto de vícios
Determinado a permanecer sorrindo
Mesmo que isso não seja verdade
Alma insana que segue evitando
Embora não posso realmente insistir
Apenas aceitar as impiedosas imposições
E cair enquanto as sementes vão germinando
Espírito atormentado pele própria ausência
Instintos inconscientemente modificados
Uma vida desfalecendo e mesmo assim o pior ainda está por vir.
É um pouco tarde para dizer que é só um engano
Este parasita dentro de mim, eu o criei
Não são flores naturais, simplesmente plástico
Na parte mais sombria da tempestade repousa um mal, que sou eu.

Eterna Tortura
















O tempo passa e nada me faz esquecer
Eu ainda lhe tenho aqui, em mim
Essas feridas não querem cicatrizar
Eu quero mais do que eu deveria querer
Eu sofro mais do que eu deveria sofrer
Não te ter é o meu pior tormento
Já tentei esconder o desejo, fingir um novo amor, superar a perda
Mas nada disso ameniza meu sofrimento
Nada em mim renasce se eu não te tenho
Nós não desistiremos, nós não morreremos
Esse é apenas um momento de mudança
Não desista de mim ainda
Não esqueça que eu...
Eu quero mais do que eu deveria querer
Eu sofro mais do que eu deveria sofrer
Não te ter é o meu pior tormento
Lembre cada chance que tivemos
De tornar o jogo menos mórbido
E nos ajustar a moldura
Mas eu estava fraca demais pra me entregar
E você, forte demais para ceder
Depois de todo esse tempo
Eu nunca pensei que estaria aqui
Derramando lágrimas nas minhas velhas cicatrizes
Eu quero mais do que eu deveria querer
Eu sofro mais do que eu deveria sofrer
Assumir o próprio erro não é fácil pra ninguém
Você se surpreenderia ao ver que meu olhar não tem mais calor,
Não tem mais cor,
Não tem mais nada que você deixou.
Uma parte de mim morreu quando eu deixei você ir
E todas as minhas recordações te mantêm próximo.
Ah sim... Eu sinto sua falta
É trágico, mas real.