Todos os dias antes de dormir eu ouço fantasmas gritarem meu nome. Um monte deles, brigando pela minha atenção. E acho que, hoje, o seu foi o vencedor. Não tenho certeza, o breu do meu quarto escuro dificultava o entendimento e a distinção. O silêncio era total, mas eu podia jurar que ouvi um sussurro. É, uma voz rouca sussurrou ao meu ouvido. Um timbre incomum: doce e firme, sério e suave, amargurado por perguntas, ensanguentado de verdade.
Talvez não tenha sido nada, talvez nem tenha sido você.
Foram apenas sussurros, e sussurros são sempre iguais.
Foi aí então que senti aquele vapor quente ao ponto de estremecer, de arrepiar todos os pelos do corpo, de fazer respirar fundo, bem fundo. E só uma pessoa no mundo é capaz de provocar tudo isso com sussurros apenas. A mesma pessoa que me escrevia cartas, que me roubava beijos e que podia olhar nos meus olhos e enxergar minha alma. É, talvez eu não seja tão insensível como dizem.
As lágrimas vieram aos olhos e quando pisquei por um momento todas as imagens sumiram.
Mas lembrei de como os beijos, as cartas e os sussurros vibravam e ecoavam na quietude das minhas memórias e me perguntei se reverberações e ecos como aqueles chegam a morrer totalmente, se algum dia você verá o anel com suas iniciais gravadas ou se nossos beijos ainda possuem o encaixe perfeito dos lábios.
Eu sei, sou uma estúpida. Mas fazer o quê?
Lembranças machucam. As boas ainda mais.