Volta aqui, menina. Explica como a gente se perdeu ou o que o vento fez com as nossas pegadas. Fica... E diz o por quê dessa melancolia tímida, dessa tristeza vã, dessa certeza vaga. O tempo passou, eu sei. Ele nos fez mais calmas. Mas o pior é ver que nesse presente futuro não somos mais que lembranças passadas. A verdade é que tenho medo, menina. Medo de sufocar, de me perder, de te encontrar, de nunca mais me encantar. E nessa vida urbana demais, polida demais; é um tanto triste ver a gente perdendo a essência das flores entre o concreto e o asfalto.
Perdoe minha culpa, menina. Olha como ela beira a estupidez: Admitindo a ausência, adotando o silêncio, permitindo que nossas memórias se percam, virem migalhas. Vê? Essa é a parte constrangedora de nosso futuro desalinhado. Uma parte distorcida de um passado inviolável. Sei o quanto ferem essas palavras e não me orgulho delas. Então me desafiei a fazer algo por isso. Você me conhece, sentir nunca foi meu verbo auxiliar. Mas ultimamente é o único que me amedronta. Não de uma maneira qualquer. O sentir só funciona quando acompanhado da doce e melancólica falta. E eu sinto, menina.
Sinto falta do seu sorriso simples, das conclusões óbvias, da caligrafia de menino. De repente senti tanta falta do seu abraço quente, das suas palavras certas. E por mais que esses tempos não pareçam vindouros eu não sinto apenas falta, sinto a sua falta. E dói. ‘Não mais como metáfora, mas fisicamente’.
Talvez essa overdose de nostalgia sirva só pra ter certeza que há pessoas que não se apagam, que ficam presentes apesar da ausência. E por mais que eu tenha essa compulsão de destruir as árvores antes que comecem a dar frutos, no final a safra nunca é infrutífera.
O que precisa ser entendido - independentemente de paradoxo - é que eu não te esqueci, menina. As minhas palavras bonitas dizem apenas que não viramos lembranças. Eu sinto você. Um sentir conjugado no presente, mas com doses esparsas de passado e futuro.