terça-feira, 31 de maio de 2011

Clausura Alternativa

Entre devagar e não faça barulho. Já é outono e elas ainda dormem, estão nessa sátira onírica há algum tempo.  Mas não estão mortas, só esperam a calmaria nesses tempos de cólera.


Então vamos resgatá-las, o silêncio as roubou de mim. Aconteceu de repente e tudo perdeu o controle. Eu vi o céu em tons de cinza se desfazer sobre meus ombros, vi as flores murcharem nos meus campos de papel e consequentemente me perdi no caminho que me levava à elas, às minhas palavras.

Eu que sempre rabisquei a alma com os dedos era devorada, agora, pela semântica. Havia certa fraqueza na voz, a inspiração sucumbia num abismo cada vez mais profundo, abandonada ao seu próprio desalento. E enquanto o silêncio usava minhas próprias palavras para dissolver a vã esperança de tê-las de volta, a eloquência escorria da minha veia poética, sem coágulos ou cicatrizes.

Agora o desespero bate à porta, e é preciso reconstruir a dialética, dar um fim a esse tartamudear. Então feche a porta lentamente e não ascenda as luzes. Elas devem permanecer delirando no escuro. Essa é mais uma fase de amadurecimento. Afinal, não há nascer do sol à noite, lembra? Não se preocupe, eu vou te guiar. Sendo assim, esqueça as perguntas e foque apenas no timbre da minha voz. Siga essa frequência sonora e espere instruções. A acústica é boa. Você vai me ouvir. E não ouse vibrar essas cordas velhas e gastas. Nem os sussurros são seguros aqui.

À oeste, meu rapaz! Para longe dessa trilha de letras mutiladas e frases inconclusas. Muito além desses silentes fonemas. Onde a retórica banha a baía de vocábulos e expressões, onde a dicção não se limita à maneira de dizer, onde metáforas sejam metonímias e principalmente onde se possa ver o delírio do verbo.

E ao contornar toda a prosa, quando restar apenas poesia, quero que acorde meus versos com sua voz vociferante. Extraia toda letargia que ainda resta nas minhas palavras. E nunca mais as deixe em sigilo porque a cólera ofusca o julgamento, cega a razão. E as folhas não cairão nesse outono, querido. Nunca mais.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Como princípio, o fim


É com [sobriedade] só ebriedade que preencho algumas linhas horizontais sobre minha negligência, sobre o extravio das minhas Cartas Mortas, e principalmente sobre como a inspiração foi se esvaindo até extinguir-se por completo. Nesse novo universo  a tristeza trazia rascunhos admiráveis, mas ao mesmo tempo prendia meus pés e vendava meus olhos.
 Não havia uma justa medida!
Então, este é o princípio: Algo que não servirá, que não purificará, que não...
Vê beleza nisso? Eu não.
É o princípio do fim de algo que talvez nem seja importante. São pensamentos [des]ordenados tentando encontrar a coerência.
Pura prolixidade!
Sorria! Agora estamos trinta segundos acima do plano inclinado da história, agora incluímos ressonância às palavras e mais ainda só agora podemos exumar as desculpas e dar um novo sentido ao que chamam de desfecho.
Então, este é o fim: Um redemoinho com todo o nada contido.